Na verdade não, eu estou totalmente fora dos trilhos e resolvi desistir da minha vida “online”, porém como todos sabem eu tenho meu querido blog desde os 10 anos, embora esteja parado há quase o mesmo tempo rs, então onde melhor pra eu me esconder, que não no meu blog parado, empoeirado e esquecido, mas tão querido por mim?
Fiz a limpa no meu insta, parei de postar no face, as vezes jogo alguma coisa no threads, mas naõ estou afim de ser encontrada por quem me conhece e, ao mesmo tempo, encontro conforto quando me expresso na internet, confuso, mas eu sou assim, confusa, sempre fui.
Nesses dez anos longe do blog eu perdi meu primeiro filho, tive meu segundo filho, perdi meu cachorro preferido, adotei outro, mudei de cidade, passei em vários concursos públicos, descobri que sou autista.
Tinha tudo pra estar vivendo a vida dos sonhos, mas estou infeliz, talvez em depressão, talvez eu seja bipolar, boderline, narcisista, sei lá, só sei que me descobri uma pessoa que não vale muito a pena para o mundo, a vontade de desistir de tudo é enorme, mas não posso, porque sou mãe e pelo meu filho faço um esforço de estar aqui (embora nem ele seja muito meu fã rs).
Aqui no blog sinto que é um lugar seguro para me expressar sem ter medo de estar me fazendo de “vítima”, porque aqui eu nunca fui julgada, todas as conclusões sobre mim que estou expondo aqui não são pra me fazer de vítima, são constatações sobre mim mesma que eu concluí nessa vida, ao longo dos meus 33 anos e, principalmente, nesse ultimo ano.
Em 2014 eu conheci a morte com a partida do Kauã. Em 2022 eu conheci uma pessoa que destruiu o pouco de vida que eu ainda queria ter e em 2024 eu descobri que não sou boa ou suficiente para fazer ninguém gostar de mim.
Foi difícil chegar a essas conclusões, mas cheguei. É triste, mas é bom ao mesmo tempo, me sinto pronta para encerrar meu ciclo por aqui, parar com as tentativas em vão de “ser alguém no mundo” e talvez até mesmo ir ficar ao lado (existe isso?) do único ser que precisa de mim pra ficar bem por, igual a mim, não ter mais ninguém: o Kauã.
O pensamento mexicano sobre a morte é que as pessoas estão vivas enquanto alguém nesse mundo guardar a memória delas, por isso acredito que o Kauã ainda vive, a memória dele está em mim todo esse tempo. É um pensamento bonito, mas ao mesmo tempo sei que ele só tem a mim e eu achava que tinha pelo menos o Pedro, mas essa semana qu constatei que não, o Pedro não precisa de mim e nem me quer mais -e tá tudo bem!-, embora pareça triste, isso foi bom de ser constatado, porque me libertou pra seguir o meu caminho sem medo de estar fazendo a escolha errada. Só estou esperando a hora certa, já que não gosto de deixar pendências. Mas pouco a pouco as coisas vão se colocando no lugar e a hora certa irá chegar.
Enfim, aqui estamos divagando sobre a vida, igual eu sempre fiz quando blogueira raiz… A vida, meus amigos, é injusta. Não existe justiça divina, karma, nem sequer “pagar aqui pelo mal que fez”. As piores pessoas são as que mais se dão bem e quer saber? Tão certas elas.
Antes eu fosse presenteada pelo dom de não sentir, mas eu fui amaldiçoada com o “sentir demais”. Nos últimos meses estou anestesiada, como se estivesse me assistindo de fora do meu corpo, mas ainda sinto e ainda dói.
Tem um episódio dos Simpsons que o Homer é levado pelo Mr. Burns pra ter um dia na vida de um ricasso, com acesso a tudo que o dinheiro pode comprar e mais um pouco, ele tem um dia incrível de luxo e depois precisa voltar pra realidade dele, sem acesso a nada disso e ele diz uma frase mais ou menos assim: Você me mostrou coisas que eu sequer imaginava que existiam e agora eu sinto falta de algo que nunca serei capaz de ter.
Esse ano eu vivi algo assim, após praticamente uma década trabalhando em mim que eu não sou, nem nunca serei o suficiente pra ter alguém incrível ao meu lado, eu tive essa pessoa por uns 2 meses, mas até agora estou tentando entender o que aconteceu pra eu perder tudo tão “fácil”, aliás, não, é mentira, eu entendo sim, eu perdi no momento em que eu quis expor e tentar fazer valer a minha vontade, de repente me tornei uma “egoísta e sem empatia” e, sinceramente, eu devo ser mesmo, porque afinal de contas, como sempre, no final sou eu que estou sozinha, mais uma vez. Se em 33 anos, dez países, 5 estados brasileiros e umas 7 cidades no estado de São Paulo, eu não consegui achar uma pessoa sequer que visse meu valor, talvez esse valor nunca tenha existido, não é verdade?
Me resta aceitar que apenas conheci as coisas da qual sentirei falta pelo resto da minha vida, pois nunca serei capaz de ter.
Não quero que concordem comigo, mas também não quero papo de coach, ou terapia TCC, do tipo: vá ser feliz, agradeça pelo que tem, mude sua vida, mude o que incomoda, blá blá blá… Como se fosse fácil, como se eu não tivesse tentado por 33 anos, como se eu não fizesse terapia, não tivesse ido em mil médicos, apelado pra religião, tarot, remédio, livro de auto-ajuda, gurus e tudo mais que pensei que pudesse ajudar. Eu já tentei de tudo, I just give up.
Eu vi uma frase no insta: I don’t have red flags, neither green flags, I only have white flags, ‘cause I give up.
This year from now I’m standing up my white flag and giving up on everything and everyone. I focus on my work and get things done with a clear conscience.
É isso, eu acho, eu volto aqui ainda, vou usar esse canal de escape pra quando eu precisar. É bom soltar tudo que incomoda a gente, dá um pequeno gás pra seguir, enquanto temos que seguir.
Não vou me desculpar pelo post ter ficado ‘depressivo’, quero expressar o que sinto e quem quiser me julgar que julgue, o pior juiz que eu enfrento todos os dias mora dentro do meu cérebro e me atormenta diariamente.
Eu já passei por muita coisa. E já perdi muita coisa, mas sempre quis lutar pra provar que eu valia a pena. Só cansei… E não, não é temporário. Foi uma coletânea de perdas significativas desde 2012. Que foram tirando pedacinho por pedacinho de mim. Sabe a lenda de Prometeu? Foram bicando meu fígado diariamente, no começo ele ia se regenerando, mas agora ele cansou e decidiu não se regnerar mais, aceitar o seu destino e seguir em frente, porque lutar só vale a pena quando você tem chance de ganhar, se você perde, você treina, se fortifica e volta lá. Mas lutar contra uma maldição divina, por mais que você seja um titã, é burrice, você nunca vai conseguir se sobrepor a uma força tão maior, ainda mais se você já está sem energia pra isso.
Se até o Homem de Ferro soube a hora de se deixar derrotar, quem sou eu na fila do pão, não é mesmo?
Talvez em outro multiverso eu esteja bem e feliz. Nesse, chegou a hora de levantar bandeira branca e deixer que o destino escolha como as coisas serão daqui pra frente. Só aceitar calada, pois assim fui ensinada e acredito que as coisas começaram a desandar quanto tentei fazer ouvirem a minha voz. Então, chega. Resetando pro modo de fábrica rs Menina calada no canto da sala, que ninguém sequer repara que está ali. Eu era mais feliz? Óbvio que não, mas pelo menos não era maltratada por ninguém, porque ninguem maltrada aquilo que não vê.
Eu amo escrever -e tenho muita história pra contar-, mas de um tempo pra ca reparei que nunca conseguia terminar minhas histórias. Simplesmente porque eu ficava buscando um final feliz pra elas e não conseguia encontrar, percebi que isso acontece porque eu não conheci finais felizes e a gente não pode escrever sobre o desconhecido. E eu me recuso a escever uma história que não tenha final feliz, então minhas histórias continuarão sem final -e, mais uma vez, tá tudo bem!-.
Em Greys Anatomy tem um trecho em que a Meredith cai no mar e quase morre afogada, acho que é o Derick que a salva e ele fica indignado que ela se afogou, sendo que ela sabia nadar, ele percebe então que ela simplesmente desistiu de nadar, de se salvar, de si mesma.
É exaustivo tentar ficar lutando contra as ondas, nadar todo dia, toda hora, sem poder relaxar. Dá vontade de desistir mesmo, mas não é desistir da vida, é simplesmente não se esforçar mais pra ir contra seu destino. Deixar as coisas acontecerem como devem acontecer. Transformar o luto em luta só é bom quando você tem uma luta específica pra lutar, mas quando o simples fato de levantar da cama de manhã se converte em lutas diárias e cada respirada dói e te demanda esforço físico e mental, uma hora a energia acaba e você não vê mais sentido em continuar se esforçando por isso, pra que? Pra no final você ir se deitar sozinha, na companhia de alguém que não é bom pra mais ninguém, que ninguém quer por perto e que, pouco a pouco, dia após dia, se torna uma má companhia pra si mesma?
Tô cansada de ouvir que é falta de força de vontade e de amor próprio. Ninguém diz pra uma pessoa cega que ela não enxerga por falta de vontade. Ensinam ela a viver sem a visão, adaptam e buscar facilitar a vida dela na medida do possível. Tem coisas que não se cura de dentro pra fora, você precisa de uma intervenção cirúrgica e ninguém é capaz de operar a si mesmo. Então não irei mais admitir que venham colocar a culpa em mim pelas decisões que tomei. Sempre odiei decidir as coisas e sempre pedi ajuda para tomar cada mínima decisão na minha vida. Não que eu quisesse que decidissem por mim, mas meu diagnóstico me ajudou a entender que o autismo -nível dois de suporte- significa que eu preciso SIM se suporte substancial pra várias coisas na minha vida e esse suporte precisa ser externo e esse suporte me foi negado por anos, então eu finalmente fiz o que tanto exigiram de mim: me decidi sozinha.
E minha decisão, de hoje em diante, será inegociável. Acabou.
Não tem mais luta, não tem mais tentativa, não tem mais diálogo, não tem mais a busca incansável pelo meu lugar no mundo ou por pessoas para me acompanharem nessa “jornada”, serei eu, trabalhando pra pagar as contas, dormindo e acordando, até não precisar mais fazer isso.
E o fim será assim. Está decretado.